Já se pode dizer mal do PS?  

Ora, muito obrigada. Sete anos depois de tanta cerimónia, contenção, controlo e pedidos de perdão antes de nos podermos queixar dos nossos socialistas, e eis que finalmente chegou o dia. Foi preciso bater no fundo mas pelo menos já ninguém é acusado de ser do Chega cada vez que crítica o PS. E isso, meus amigos, é quase liberdade.

Jornalistas, comentadores, humoristas, oposição e até Marcelo Rebelo de Sousa já criticam abertamente o PS, o governo, o primeiro-ministro. Sem medo, com indignação e mesmo veemência. Uma pessoa até fica com pena por ver tanta crueldade, falta de caridade, diria. Os golpes, a maledicência chegam dos sítios mais improváveis, como seja a própria família socialista. Dizem estes camaradas que este PS não é bem PS - como Sócrates também não o era - assim como tantos e tantos outros impuros que se deixaram encantar pelo brilho do poder ou do dinheiro e acabaram por se corromper. Socialismo não é isso, alegam. E pumba, saltam do barco, enquanto nos deixam miseráveis, a nós e ao país.

É o princípio do fim: ser do PS não está na moda e Pedro Nuno Santos que o diga. O que espanta, no entanto, é o desplante. É o "não tenho nada a ver com isto" universal. Pelo menos Costa tem. Costa e Medina, Galamba e meia dúzia de outros fanáticos pelas falências e desgraças alheias. Defendem intransigentemente o seu projeto da degradação nacional e da democracia em curso. Com indigna dignidade. Como aqueles adolescentes que chegam orgulhosamente bêbados a casa a falar alto e a cambalear.

Quanto ao resto, é um caso de apatia coletiva que despertou agora. Talvez seja do trauma, desconfio. Experimentem sair da Netflix e aterrar nas notícias. Quase que se acredita que o PS e este governo nasceram ontem, que não foi lá posto há décadas e que nem sequer foi eleito com maioria absoluta há menos de um ano.

Que era aceite - quer pelo eleitorado quer pelos pensadores e comentadores das cortes. Se há uns meses dizer mal do PS era sinal de tendências protofascistas; hoje, quem não diz "é cocó".

O país está em choque com o governo que lhe calhou na rifa. Indignado com os casos e casinhos, com a TAP e com o governador, com a inflação e os impostos, com a arrogância do primeiro-ministro e as demissões em dominó do governo, com os números e os gráficos. E está a ficar aterrorizado com a ideia de ficar amarrado a esta desgraça por mais três anos e meio. Três anos e meio é o tempo de uma criança nascer, começar a andar, falar, fazer desenhos, nascerem-lhe imensos dentes, ir ao futebol, ser adepto do Benfica. É uma vida.

Dizem que não há alternativa ao PS, que a oposição é fraca, etc.. Talvez. Mas, meus amigos, há casos em que até o rato Mickey é alternativa (vide EUA). É o nosso.

Jurista

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