«Não foi sorte, mas merecimento» (Margaret Thatcher)
Dúvidas não subsistirão no que respeita ao valor e ao impacto político de certas mulheres, figuras dinâmicas, marcantes, polarizadoras, que muitos conhecerão e em relação às quais terão opinião, como, por exemplo:
· Margaret Thatcher - Ex primeira-ministra do Reino Unido, a primeira mulher a ocupar o cargo nesse Reino, eleita para três mandatos consecutivos (algo que já não sucedia há mais de século e meio,) «uma figura mitológica, o arquétipo da "mulher forte" em todos os continentes» (segundo Charles Moore, autor de 3 volumes sobre a Dama de Ferro);
· Aung San Suu Kyi - Líder da oposição política no Myanmar, dirigente deposta, Prémio Nobel da Paz em 1991, colocada em prisão domiciliária em 1990 e condenada, em 2022, a décadas de prisão por um tribunal militar;
· Angela Merkel - Ex chanceler da Alemanha, à qual já aqui dediquei um artigo;
· Ellen Johnson Sirleaf - Ex presidente da Libéria, a primeira mulher a ocupar a presidência de um país africano, Prémio Nobel da Paz em 2011 e Prémio Ibrahim para a Excelência na Liderança Africana - este último atribuído, segundo o Presidente da respectiva Comissão, por ter tomado as rédeas de um país profundamente destruído pela guerra civil e ter executado um processo de reconciliação centrado nos conceitos de coesão nacional e sólidas instituições democráticas;
· Sheikh Hasina - Primeira-ministra do Bangladesh desde 2009, tem um salário anual de Euros 997,00, tendo alcançado progressos significativos em sede de desenvolvimento económico, redução da pobreza e defesa dos direitos humanos, reflectindo o pensamento explanado em livros da sua autoria, como Why are they Street Children, The Origin of Autocracy, Miles to go, Elimination of Poverty and Some Thoughts, People and Democracy, My Dream My Struggle;
· Ursula von der Leyen - A primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da Comissão Europeia - para o qual foi nomeada em 2019 - liderou com sucesso o combate à COVID-19 na União Europeia, tem defendido a soberania ucraniana com grande fervor e foi classificada pela Forbes como a mulher mais influente de 2022 (Cristine Lagarde, a primeira mulher à frente do Banco Central Europeu ocupa a 2ª posição e Kamala Harris, a primeira mulher, a primeira negra e a primeira pessoa de ascendência sul-asiática a ocupar o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos da América ocupa a 3ª posição, na referida lista da Forbes); e
· Jacinda Ardern - Por ora primeira-ministra da Nova Zelândia - a mulher mais jovem a exercer o cargo em questão - implementou políticas progressistas em vários campos, tornou a Nova Zelândia num exemplo a seguir no respeitante à adopção de medidas anti COVID-19 e uma vez reeleita criou o mais diversificado gabinete até então visto na Nova Zelândia. Demitiu-se, não em virtude das muitas ameaças sofridas, mas por pura exaustão e consequente incapacidade para prosseguir o cargo com os níveis de energia e de cuidado exigidos para tal. Talvez o maior líder seja mesmo aquele que «reconhece a sua pequenez, extrai força da sua humildade e experiência da sua fragilidade» (Augusto Cury).
Não tendo a primeira-ministra da Nova Zelândia apresentado a demissão na sequência de intimidação, é um facto, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que as mulheres em cargos de poder estão sujeitas a um nível elevado de assédio, ameaças e abusos, tanto na Internet como na vida real - bem como de escrutínio, lembremos o caso de Sanna Marin.
Noutras geografias a realidade é mais negra. O modo como a sociedade trata a metade feminina da sua população veda o acesso de mulheres a cargos políticos, sendo ainda um indicador significativo da forma como trata as pessoas em geral (como notou o Secretário-Geral da ONU). Exemplos conhecidos residem em países, como o Afeganistão, onde um infeliz enquadramento cultural e religioso leva a que as mulheres sejam vistas como seres inferiores, inexoravelmente inadequadas para cargos de liderança e privadas de direitos, liberdades e garantias primordiais.
Múltiplas estratégias podem ser adoptadas, pelos Estados, pelo sector privado e pela sociedade civil, no plano internacional, regional e nacional, com vista a superar barreiras e a criar oportunidades para que as mulheres possam ter acesso a cargos de liderança política pelo mundo fora. Crucial é lembrar que mudar normas e estereótipos requer uma abordagem multifacetada, que vai da educação de base (sobretudo na infância e na adolescência) a incentivos concretos ao processo de candidatura eleitoral (como coaching, networking e apoio financeiro nos moldes permitidos pela legislação do país em questão).
Tendo sido contornados diversos e difíceis obstáculos e dados passos gigantescos em certos pontos do globo, a verdade é que ainda há muito por fazer. Em sede de cargos políticos de primeira água, a igualdade de género continua a ser algo pendente, não vigente, um horizonte por avistar. Mas o caminho não é longo quando o desejo de chegar é inabalável e, ironicamente, no dia em que tivermos mulheres incompetentes em posições de grande poder sabemos que chegámos a bom porto (parafraseando Simone De Beauvoir).
(Nota: A autora não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico)
Patricia Akester é fundadora de GPI/IPO, Gabinete de Jurisconsultoria (www.gpi-ipo.com)