Apesar de já ser uma prática corrente no mercado, o "open banking" ainda não é uma expressão totalmente conhecida entre os consumidores. O facto é que esta tecnologia permite dar resposta a uma necessidade crescente de utilizadores bancários particulares e empresariais: maior autonomia financeira.
Posto em termos simples, o open banking é uma tecnologia que permite agregar todas as informações financeiras de um cliente - como saldos e transações, por exemplo -, mesmo de bancos diferentes, numa única plataforma. De igual modo, esta tecnologia facilita a iniciação de pagamentos, já que, ao condensar os dados bancários de um cliente num ambiente comum, podem realizar-se os pagamentos desejados sem que haja a necessidade de abrir várias sessões de homebanking. O processo torna-se mais estreito, direto e descomplicado.
Da perspetiva dos consumidores particulares, esta tecnologia facilita o acesso a ferramentas de finanças pessoais que dotem cada cidadão de autonomia para gerir orçamentos familiares, prever cenários de risco e negociar melhor com bancos. Para consumidores empresariais, o open banking permite uma gestão otimizada de tesouraria em tempo real; a aceleração de processos contabilísticos e conciliações bancárias; a simplificação e redução de custos operacionais; e, ainda, ganhos secundários, como a eficiência energética, a transição digital e a valorização do capital humano, que é libertado para tarefas de maior valor acrescentado.
Sublinhe-se: este não é ainda um conceito sonante - nem para clientes particulares, nem para muitos gestores de topo. Há, ainda assim, um conjunto de fatores que vão potenciar a expansão desta tecnologia. Destacamos as 5 vias que vão facilitar a consolidação do open banking em Portugal.
1. Fintechs
A entrada no ecossistema bancário de novas empresas de âmbito tecnológico, comumente conhecidas como "Fintechs", vai apoiar a expansão desta tecnologia. Através da natureza versátil, ágil e inovadora destas empresas tecnológicas, é possível prestar serviços disruptivos a todos os intervenientes do mercado financeiro, desde os bancos, às empresas de qualquer ramo, até aos consumidores finais.
2. Regulação
Com a implementação do open banking, o foco esteve inicialmente - e bem - em garantir que todas as entidades bancárias cumprissem as diretivas que regulam a tecnologia. Esta é, efetivamente, uma prática regulada, sendo a diretiva mais recente a "Payment Services Directive 2" (PS2 - 2015/2366). Na fase de pós-implementação, é necessário, porém, salvaguardar este sistema de monitorização e de cumprimento das regras, protegendo, dessa forma, a correta implementação (e sedimentação) desta prática bancária.
3. Maturidade
Tal como qualquer outra inovação que emerge no mercado, o open banking está ainda a gerar entusiasmo entre os chamados "early adopters", ou seja, aqueles utilizadores que procuram ativamente soluções para resolver determinados problemas, sejam do foro pessoal ou profissional. Por esta razão, podemos esperar uma consolidação desta nova prática bancária, "pós-early adopters", em que ocorrerá a massificação do conceito transversalmente pelos vários agentes económicos.
4. Nova Diretiva na Europa
Apesar de se ter dado um importante impulso para a implementação do conceito de open banking com as diretivas PSD1 e PSD2 - esta última já referida -, vislumbra-se uma nova norma, a PSD3, que procura alargar o âmbito e ultrapassar os desafios e riscos da diretiva anterior. Esta nova orientação regulatória permite, sobretudo, criar pagamentos instantâneos transfronteiriços com boa relação custo-benefício. Em concreto, dá força a novas tecnologias e métodos de pagamento, como o formato "Buy now Pay Later" ou as criptomoedas. O objetivo passa também por fortalecer os requisitos de SCA (autenticação forte do cliente) e incluir padrões de API, e de segurança, mais precisos. Pode não ser já implementada a PSD3 em 2023, mas vão ser dados passos importantes.
5. Adoção noutras geografias
Por fim, estamos a assistir a uma implementação cada vez mais gradual deste conceito de Open Banking em várias regiões geográficas para além do espaço europeu. Na América Latina, este é um processo já avançado junto das entidades reguladoras, realçando-se o Brasil como grande impulsionador. Na América do Norte, sobretudo no Canadá, e em África, este conceito começa a marcar também uma posição distintiva e competitiva. Esta globalização do open banking permite, como se entende, credibilizar a tecnologia.
Os fatores mencionados representam um grande passo para uma adoção sustentada do open banking em Portugal. E, por tudo o que já se expôs, chegamos com facilidade a uma conclusão: só temos a ganhar ao acolher esta nova tendência bancária.
Orlando Costa, CEO da nBanks