Ter consciência do medo e do risco, é fundamental, pode ser até um garante da sobrevivência, mas não deixar que isso bloqueie as nossas decisões é ainda mais determinante.
Nesta semana foi lançado o livro Do medo ao sucesso. Não é um manual de gestão, nem um guia de motivação. É antes um agitador de mentes quietas que se tornam inquietas, que questionam, que não se conformam com o medo... e que procuram o sucesso. Histórias de vida, de empresas e do país escritas pelo empresário Bruno Bobone, líder do Grupo Pinto Basto e presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (entrevistado na página 14).
Sem rodeios, o empresário aponta o dedo a partidos, políticos e gestores resignados que não ousam sequer sair da zona de conforto. Ao longo da história provámos, enquanto povo, ter a vontade e a força para vencer o medo, ter a capacidade de união em redor de desígnios nacionais - que segundo o autor só existiram nos Descobrimentos e na Restauração da Independência -, e provámos ter apetite pelo risco.
Claramente, a vida e o percurso do autor refletem as influências que guardou de África. A infância em Moçambique e as vivências em Angola deram-lhe vistas largas, ambição e uma certa crença de não haver limites à criatividade e imaginação. É dessa largura de horizontes que tantas vezes sentimos falta nos políticos e empresários nacionais. Nos últimos anos assistimos à emancipação de muitos empreendedores, à concretização de sonhos de inovação, de exportação, de internacionalização. E ainda bem que assim tem sido, porque são esses corajosos que não se deixam vencer pelo medo que ajudaram o país a sair da crise e que hoje contribuem para criar a marca Portugal, cada vez mais forte.
Ter consciência do medo e do risco, é fundamental, pode ser até um garante da sobrevivência, mas não deixar que isso bloqueie as nossas decisões é ainda mais determinante. Aliar o medo à inveja, outro flagelo nacional - na opinião do autor e com o qual estou de acordo -, é o cocktail perfeito para o insucesso! A inveja amedronta, bloqueia, tolda o raciocínio, manipula determinadas mentes, empurra-as para caminhos errados. E mesmo sabendo que não devem ir por aí, seguem em frente porque a inveja se torna mais forte do que a razão.
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O autor explica, com graça, o síndrome dos caranguejos, que ilustra a dificuldade que alguns portugueses têm de ver alguém sobressair - o melhor é puxá-lo para dentro do balde, antes que fuja ou que seja promovido pelo seu esforço. E estar no balde é a antítese da meritocracia, é ficar preso à narrativa do medo, à cultura antirrisco, na cultura dos privilégios e dos direitos adquiridos. Estar no balde pode ser também ficar confortavelmente a depender do Estado, dos subsídios e das benesses, só porque se é do mesmo balde de caranguejos, do mesmo partido, da mesma organização, do mesmo clube.
Como escreve o autor, “o medo corrói a estrutura da sociedade até que esta desabe sobre si própria”. O Estado por vezes também transmite medo, pela imprevisibilidade das políticas públicas, por exemplo na carga fiscal ou na educação. E nem é preciso mudar um governo, basta mudar um ministro e a imprevisibilidade surge. Se juntarmos a isso os custos de contexto - lentidão da justiça, gigante carga fiscal gigante, elevados custos energéticos ou pulverização dos poderes administrativos - temos o ambiente perfeito para o medo e o melhor desincentivo ao empreendedorismo.
O país, as empresas, os cidadãos precisam de vencer o medo para se afirmarem, para darem o seu melhor contributo para a sociedade, para ganharem as forças que lhes permitirão deixar o balde e dar o salto para o sucesso. Um salto cuja plataforma tem de ser sempre a meritocracia, os resultados alcançados, sem nunca esquecer os valores e a ética que nos devem guiar no exercício da nossa missão.