Metaverso. A próxima obsessão de Silicon Valley

Ali pelos lados de 2006 houve uma fase de loucura com a vida simulada online, numa plataforma chamada Second Life onde as pessoas podiam dar asas à sua imaginação em experiências virtuais realistas. Este ambiente virtual 3D permeado por avatares deu-nos um cheiro do que iria ser a transição para vidas filtradas pela digitalização. Há hoje tantas formas de encarnar outras vidas online que a novidade se dissipou, mas o Second Life, criado pela Linden Lab em 1999, continua a existir como um videojogo e mantém uma certa mística.

Foi nisto que pensei quando ouvi Mark Zuckerberg, o CEO do Facebook, falar da transição que está a preparar para o futuro. A sua ambição é que a empresa deixe de ser vista como uma gigante das redes sociais e passe a ser encarada como um dos fundamentos do metaverso.

O termo pode transportar-nos para um cenário entusiasmante de um filme de ficção científica dos anos noventa, mas é mais mediano que o que parece e menos interessante que o que o futuro merece. Silicon Valley anda aos saltos em torno deste horizonte que quer tornar as aplicações muito mais imersivas.

"É um ambiente virtual onde se pode estar presente com pessoas em espaços digitais. Podemos pensar nisto como uma internet corporizada em que estamos do lado de dentro em vez de apenas olhar para ela", descreveu Zuckerberg, na conferência com analistas que se seguiu à apresentação dos resultados trimestrais.

Esta descrição não parece muito diferente que o conceito original, criado pelo escritor Neal Stephenson na história de ficção científica "Snow Crash": uma convergência das realidades física, aumentada e virtual num espaço comum. Hoje, um mundo online permanentemente acessível através de realidade virtual, realidade aumentada ou os últimos super smartphones. Várias "big tech" vêm falando sobre este futuro e sobre a economia nova - e descentralizada - que vai gerar. O Facebook quer ser o criador de parte deste metaverso. A Microsoft, a Nvidia e a Epic Games.

Foi no jogo Fortnite desta última, aliás, que Ariana Grande estreou o seu novo espectáculo, "The Rift Tour", numa entrada de rompante no metaverso. Imaginem: um espaço virtual onde os nossos avatares estão organizados de forma semelhante ao que seria no mundo real, mas com acesso a todo o tipo de experiências cinemáticas que só são possíveis no mundo encantado do 3D.

O potencial é grande, mas por isso mesmo é preciso acautelar os enormes riscos. Se o mundo online tal como existe agora já está inundado de desinformação, ódio, bullying, extorsão e esquemas fraudulentos, imagine-se num mundo onde as barreiras entre o físico e o digital estão esbatidas.

Já sabemos que as tecnológicas são péssimas a adivinhar consequências negativas e não intencionais das suas inovações, por isso caberá aos reguladores projectarem o que pode correr mal e tomarem medidas preventivas. Auto-consciência não é coisa que abunda pelo vale do silício e muito menos em Palo Alto, onde está sediada a rede social mais bem posicionada para juntar um quarto da população mundial no metaverso.

Há ainda outras questões a colocar antes de nos lançarmos de cabeça na próxima aventura digital - a segurança, a privacidade, o resguardo de crianças e menores e a saúde mental e emocional das sociedades. Assim de repente, o metaverso pode parecer uma forma incrível de "estar" perto de pessoas queridas do outro lado do mundo, partilhando juntos experiências únicas.

Mas também ameaça ser o destino final desta centrifugação que nos suga a alma para dentro dos smartphones e dispositivos inteligentes, afastando-nos cada vez mais de um sentido de realidade fundamentado naquilo que é palpável à nossa frente.

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