O cimento e as fundações para a descarbonização da economia nacional

A Comissão Europeia, no seu Pacto Ecológico Europeu, identifica a indústria cimenteira como indispensável para a economia europeia, dado ser parte insubstituível de cadeias de valor. O setor, a sua modernização e a sua descarbonização são assumidos como essenciais para a sociedade europeia.

A Comissão Europeia concretiza no European Green Deal um pacote de medidas que deverá permitir a empresas e cidadãos europeus beneficiar de uma transição sustentável que visa atingir a neutralidade climática até 2050. A Europa tornar-se-á assim no primeiro continente climaticamente neutro, contribuindo para desacelerar o aquecimento global e atenuar os seus efeitos. A neutralidade carbónica tem aí a sua meta traçada para 2050, mas já se prevê uma redução das emissões de gases com efeito de estufa na UE em, pelo menos, 55 % até 2030, face aos níveis de 1990.

O cimento, componente essencial do betão, é parte integrante da nossa vida quotidiana. Na verdade, o betão é o segundo produto mais consumido globalmente depois da água, e é usado em quase tudo o que construímos e em que vivemos - edifícios e infraestruturas essenciais para uma sociedade moderna, saudável e segura. É até à data um produto insubstituível e mesmo vital para a construção das infraestruturas de energia renovável, a concretização de sistemas de transporte de baixo carbono e a realização de um edificado urbano com cada vez menor impacto ambiental. É inegável o papel central que estes produtos têm e terão para a concretização de um ambiente mais sustentável. Ao contrário do que se afirma de forma simplista, a ciência comprova que, considerando todo o ciclo de vida, não há materiais mais sustentáveis que outros. Não obstante, a indústria ainda figura como um dos principais emissores globais de CO2-A nossa pegada de carbono resulta de processos químicos na descarbonatação do calcário e da queima de combustíveis para a fabricação de clínquer, produto intermédio fulcral na produção de cimento.

Estamos cientes de que as alterações climáticas serão, um dos maiores desafios da sociedade atual e, nesse sentido, a sua mitigação representa uma responsabilidade para todos nós. Reconhecemos a obrigação de cumprirmos com a nossa quota-parte e por isso estamos empenhados no nosso objetivo de descarbonização assumindo a economia de baixo carbono, a economia circular e a construção sustentável como pilares das preocupações da indústria cimenteira do futuro, a serem considerados em todas as nossas práticas e processos de decisão.

Esta inevitável descarbonização da Indústria do Cimento vai obrigar a um enorme processo de transformação. Nesse sentido, e enquanto setor relevante na economia nacional, estamos a trabalhar para a concretização da nossa parte dos compromissos de Portugal no âmbito do European Green Deal. Divulgámos recentemente o nosso Roteiro para 2030 e 2050, que convidamos a conhecer. Este "ROTEIRO PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL - Rumo à Neutralidade Carbónica da Indústria Cimenteira Portuguesa até 2050" está em consonância com os objetivos nacionais de descarbonização da economia. Este é o nosso compromisso público, detalhado e quantificado de atingirmos nesta indústria a neutralidade carbónica em 2050. O caminho é longo e exigente mas já o começámos a percorrer.

E assumimos publicamente os nossos compromissos:

- Se entre 1990 e 2017, o setor cimenteiro nacional atingiu uma redução superior a 14% nas emissões específicas de CO2 por tonelada de cimento,

- até 2030 podemos alcançar uma redução das emissões de CO2 de 48% ao longo da cadeia de valor,

- e atingiremos a neutralidade carbónica ao longo da cadeia de valor até 2050, uma vez disponíveis a uma escala comercial tecnologias disruptivas como as de captura, utilização e armazenamento de CO2 - CCUS.

Este Roteiro identifica e quantifica medidas de curto e de médio prazo, baseadas em tecnologias já desenvolvidas, com investimentos ao longo de toda a cadeia de valor, para objetivos até 2030. As novas tecnologias CCUS, sem as quais dificilmente será viável alcançarmos esta meta de neutralidade carbónica até 2050, estão em fase de investigação e desenvolvimento ou com instalações-piloto de escala semi-industrial. Apenas viabilizaremos estas soluções disruptivas, com custos e riscos ainda consideráveis, através de um esforço comum de I&D e da construção de uma infraestrutura de transporte de hidrogénio e de CO2.

Assumimos aqui o nosso compromisso e a nossa quota-parte no caminho para a neutralidade carbónica. Mas será fundamental para este processo uma parceria aberta com toda a sociedade: indústria, construção, academia, reguladores, decisores políticos e sobretudo com todos os clientes, consumidores e cidadãos - todos nós.

Gonçalo Salazar Leite, presidente da ATIC- Associação Técnica da Indústria de Cimento, e Luís Fernandes, presidente do Conselho Executivo da ATIC e CEO da CIMPOR

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