Uma coisa é saber o significado de pandemia, outra coisa é vivê-la. Nos próximos tempos, o mundo estará em aparente shut-down: a maioria das empresas abranda a sua atividade ou é obrigada a parar, os espaços públicos das cidades ficam desertos, os países isolam-se e as pessoas recolhem a casa. Na realidade, o único fenómeno que todos gostaríamos de “desligar” era a própria pandemia. Tudo o resto é muito importante que se mantenha vivo. Estar isolado ajuda a conter a disseminação do vírus. Estar parado agrava as consequências sociais e económicas do mesmo. Penso em concreto, nas empresas e nas famílias por serem as duas comunidades de pessoas estruturantes da sociedade.
Neste período sem precedentes e de enorme incerteza, o papel dos líderes empresariais é determinante. No ecossistema da empresa, cuidar atentamente as pessoas, o negócio e a sua operação bem como a sustentabilidade financeira são as grandes prioridades. São prioridades de sempre, é verdade, mas que em tempos mais complexos convém que sejam mesmo prioritárias.
Em relação às pessoas é o momento de ser muito humano, traçar orientações, preocupar-se com os receios e dificuldades com que se encontram. E não apenas profissional e economicamente, mas social e pessoalmente. Não apenas os colaboradores, mas também os clientes, os fornecedores, todos com os quais contamos para levar a empresa para a frente, incluindo a família de cada um. E partilhar também as suas próprias preocupações. As fragilidades partilhadas geram confiança, a confiança gera fortaleza, resiliência e compromisso, os quais geram otimismo e suscitam a inovação, abrindo caminho para chegar ao futuro.
Entretanto mau será se se considerar que o momento é de “business as usual” ou se paralisar com medo de arriscar fazer diferente. Na maioria dos negócios é preciso manter vivo o negócio tradicional, mesmo que a um ritmo menos acelerado, mas ao mesmo tempo, reinventá-lo face às circunstâncias atuais. E o mesmo em relação a pensar como se podem melhorar as operações. As novas formas de trabalho e o atuar de forma contrária à lógica da economia global nas cadeias de abastecimento criam aprendizagens que têm de nos levar para paradigmas de funcionamento diferentes, mais eficientes.
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Crítico será manter recursos financeiros que permitam fazer esta travessia. E aí não existem muitas soluções: fazer diferente, envolver outros na solução (colaboradores, clientes, parceiros, bancos, estado,…) e tomar medidas no tempo oportuno, sempre considerando as consequências humanas e éticas das mesmas.
Em relação às famílias, de acordo com a duração da pandemia, agravar-se-ão as dificuldades económicas e sociais. Mas, desde logo, pensando na organização equilibrada entre a convivência familiar e o trabalhar em casa, já de si potenciadora de conflitos que podem ser marcantes na rede de relações e afetos em família. A forma como cada família vai ultrapassar este período, depende muito de vários ingredientes como sejam a paciência (muita paciência), mas também o respeito do espaço e tempo de cada um, a delicadeza no convívio, a generosidade nas tarefas comuns e o empenho por desfrutar do bom que é ter esta possibilidade inopinada e tantas vezes sonhada de estarmos a passar mais tempo juntos.
Este tempo exige sair fora da habitual zona de conforto e isso significa ficar mais vulnerável. Partilhar os desafios e as soluções é construir a história da empresa ou da família. Em ambos os casos, daqui a uns meses, quando olharmos para trás, será algo que nos deixará felizes de o ter feito e, principalmente, nos levará a entender que se não o tivéssemos feito não chegaríamos fortes e preparados para os próximos tempos.