Saber partilhar é saber dar a conhecer o que pensamos e saber entender o que nos é dado. O Grupo Informal de partilha Sharing Knowledge - que na Universidade de Coimbra vai realizar mais um encontro de prospetiva sobre os tempos que vivemos - tem vindo desde há quase três anos a dar sentido a esse objetivo. Como muito bem defende Geoff Mulgan, precisamos de uma nova inteligência coletiva que nos habilite a ser mais competentes naquilo que fazemos e a injetar um maior capital de confiança nos ecossistemas em que nos vivemos. Com esta crise, tudo passou a ser diferente e nada passou a ser igual - a rede informal de partilha Sharing Knowledge mantém vivo o seu objetivo de ajudar a construir soluções inteligentes para o futuro que aí vem.
Charles Leadbeather, um dos mais interessantes pensadores na área da inovação, ficou célebre pela frase - "We are what we share". Esta frase é muito clara - nós somos muito aquilo que somos capazes de partilhar e ao fazê-lo estamos claramente a dar um sinal muito positivo em relação à nossa integração numa sociedade que se quer aberta e focada no futuro. A sociedade de que nos fala Karl Popper e que cada vez mais tem desafios estratégicos que nos devem mobilizar a todos como indivíduos num contexto de governance e cooperação que se pretendem verdadeiros drivers de mudança para o futuro.
Esta crise que estamos a viver veio-nos obrigar a ter que saber reposicionar as nossas agendas. Este novo tempo não significa que tenhamos que deixar de partilhar ideias ou de participar no espaço público de que nos fala Daniel Innerarity. Pelo contrário. Nunca como agora foi tão importante reforçar a dimensão interpessoal das nossas relações humanas com um sentido muito claro de estar em rede e ter uma atitude positiva para aprender com os outros e partilhar com os outros a nossa visão das coisas e o conhecimento que temos e que deve ser a base de uma reflexão conjunta inteligente sobre os desafios que temos pela frente.
As organizações em que estamos são muito o que nós somos. E apesar desta nova revolução digital que está a alterar a cadeia de valor dos negócios e a agilizar a dinâmica das articulações em rede, a capacidade de antecipar o futuro é algo que continua muito a depender do sentido de oportunidade e de abertura para ser inovador e eficiente. A partilha de informação e de conhecimento deve ser um contexto e um conceito que emerge desta capacidade natural de sermos livres e podermos contribuir com ideias para uma maior qualidade das nossas instituições e uma maior realização individual dos cidadãos. Nós somos muito o que partilhamos e nós vamos continuar a partilhar porque acreditamos no futuro e queremos fazer parte dele.
O conhecimento não se constrói por decreto. Passa por um processo colaborativo, em rede, de partilha de ideias e de informação, com o objetivo de ajudar a encontrar novas pistas de abordagem inteligente para um tempo novo que aí vem. O Sharing Knowledge é isso mesmo - um contributo simples e prático para fazer da partilha um instrumento de construção de novas abordagens estratégicas focadas no valor, na inovação e na criatividade como enablers de distinção competitiva para uma nova agenda com sentido.
(Nota: o autor escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico)
Francisco Jaime Quesado, economista e gestor - Especialista em Inovação e Competitividade