Por que é que as nuances culturais influenciam a compreensão universal?

Nos dias de hoje, as empresas dificilmente se limitam pelas fronteiras terrestres, mas encontram nas barreiras linguísticas um entrave considerável. A necessidade de comunicar com clientes das mais diversas línguas, traz de volta a questão de a comunicação multilingue não se tratar apenas de traduzir a informação palavra por palavra.

Cada uma das mais de seis mil línguas existentes no mundo tem nuances linguísticas e contextuais que influenciam a forma como as pessoas reagem às interações transculturais. É aqui que começam as dificuldades dos algoritmos. Embora a tradução automática tenha evoluído muito nos últimos anos, ainda existem limitações. Assim, na hora de escrever conteúdo para traduzir automaticamente, devemos ter em conta algumas considerações culturais.

O primeiro ponto prende-se com o tom da comunicação. Enquanto os nativos de inglês utilizam frequentemente expressões casuais, em tailandês ou em turco é possível encontrar as duas formas de linguagem nas interações. Já em países como o Japão ou, até mesmo, em Portugal, quando contactamos os serviços de apoio ao cliente, esperamos ser tratados num registo formal. Assim, uma vez que as expectativas podem ser diferentes consoante a cultura, o melhor é jogar pelo seguro e comunicar num tom mais formal, a menos que falemos com ingleses nativos.

Numa segunda instância, recomendaria também evitar gírias e trocadilhos. Todos já passámos pela situação de tentar traduzir uma expressão e o resultado ser uma explicação literal, sem muito significado ou com um sentido menos positivo. Daí a relevância de ser preciso e claro para garantir que somos bem entendidos, independentemente da língua ou cultura.

Noutro ponto, encontramos a questão dos dialetos. No caso do inglês, um norte-americano facilmente compreende um australiano, ao passo que em outros exemplos, como o caso do chinês, as diferenças são tão estruturais que se tornam incompreensíveis. Do mesmo modo, as variantes de árabe faladas no Norte de África são muito diferentes das que encontramos na península árabe, o que significa que a tradução de informação para o árabe padrão moderno ou outras versões padronizadas de línguas pode ajudar a minimizar mal-entendidos que provêm de variações regionais.

Além do tom, também o estilo de comunicação varia conforme o idioma. Por isso, não há nada como ir direto ao assunto. Nos países nórdicos, a honestidade e a factualidade estão em primeiro lugar. Assim, numa conversa com um finlandês ou um dinamarquês a melhor solução é limitar a conversa fiada e concentrar-se imediatamente na questão do cliente. Em contraste, os japoneses e chineses apreciam uma boa conversa prévia à questão central.

Por último, mas não menos importante, o conceito de respeito, que à primeira vista, pode parecer ter pouco a ver com comunicação. Em algumas culturas asiáticas o conceito de "rosto" refere-se à integridade, prestígio e dignidade de uma pessoa. Neste sentido, privilegia-se o evitar acusações e o desconforto, em detrimento da honestidade. Insinuar ou incitar alguma tensão na conversa pode impactar negativamente a conversa.

Em conclusão, apesar da evolução da inteligência artificial, e de toda a tecnologia associada, as nuances culturais são um obstáculo à comunicação universal que deve ser considerado quando se escreve para tradução automática.

João Graça, diretor de tecnologia da Unbabel

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