Lula da Silva tem sido alvo de pesadas críticas de economistas por ceder à tentação, novamente, de investir num projeto, o gasoduto Vaca Muerta, num país estrangeiro, no caso a Argentina.
Analistas lembraram que Venezuela e Cuba jamais pagaram ao Brasil ajudas do tipo -- num total de 2,1 mil milhões de dólares -- nos primeiros governos de Lula. "Quem pagou foi você, que está nos assistindo, porque sobrou para o contribuinte brasileiro", disse Thaís Herédia, apresentadora do programa CNN Money.
Roberto Dumas, chefe de estratégia do Banco Voiter, acrescentou que "estamos falando de um país [a Argentina] que está absolutamente falido, que simplesmente não tem condições de pagar", completou.
Noutro momento, Lula chamou de "bobagem" a decisão, formalizada em lei de 2021, de tornar o Banco Central do Brasil independente. No dia seguinte, dólar e juros subiram. "Com razão, o mercado fica preocupado", disse a consultora Zeina Latif.
Na política, Lula voltou a chamar o processo que levou à destituição de Dilma Rousseff e à ascensão de Michel Temer, em 2016, de "golpe". O próprio Temer e parte da imprensa acusaram-no de hipocrisia: afinal, convive no seu governo com sete "golpistas", começando pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, passando por Simone Tebet e terminando em Marina Silva, os três favoráveis ao "golpe".
Foi golpe ou não? Justifica-se, ou não, ter um Banco Central? É, ou não, bom negócio investir em países amigos? As discussões no Brasil de hoje são estas.
Sob o governo de Jair Bolsonaro, marcavam a agenda as opiniões do ministro da Economia Paulo Guedes, tais como, "antes [no tempo de Lula], até as empregadas domésticas já iam de férias à Disneylândia, vão mas é visitar Cachoeiro do Itapemirim, onde o Roberto Carlos nasceu".
"As universidades são antros onde há plantações de droga", disse um ministro da Educação. "O ensino superior deve ser para poucos e as crianças com deficiência devem ficar de fora das salas de aula para não atrapalhar", afirmou o sucessor.
"A vacina contra a covid-21 transforma as pessoas em jacarés", garantiu o próprio presidente. "Lockdown não resulta porque os passarinhos, os ratos e os insetos não o fazem", lembrou o ministro do Trabalho para quem "ter arma em casa é tão perigoso para as crianças como ter um liquidificador".
"Vamos aproveitar a distração da pandemia, para passar a boiada do desmatamento", sugeriu o titular do Ambiente. "Donald Trump é um enviado de Deus" e "o Brasil deve ser um pária", sentenciou o chefe da diplomacia.
"Os meninos e as meninas devem usar azul, eles, e rosa, elas", declarou a ministra dos Direitos Humanos, segundo a qual "Elsa [do filme Frozen] fica sozinha porque é lésbica"
"O rock incita o satanismo e o aborto", disse o presidente de fundação estatal de apoio à música. "A escravidão foi benéfica para os negros", afirmou o homólogo da defesa da cultura negra.
Foi golpe ou não? Justifica-se, ou não, ter um Banco Central? É, ou não, bom negócio investir em países amigos? Mesmo que a resposta às três perguntas seja "não" é um consolo para quem viveu o Brasil dos últimos quatro anos que os temas em discussão sejam estes - é voltar à terra redonda, depois de quatro anos na terra plana.