Quem tem medo de robots?

É um medo antigo. De que a crescente utilização de robots implique uma queda drástica da empregabilidade. Já durante a revolução industrial, na década de 1930, se apregoava uma suposta "doença" que iria contaminar a sociedade à medida que se automatizavam as fábricas. Chamavam-lhe a doença do "desemprego tecnológico". Naquela altura, a população temia a chegada dos teares às fábricas, substituindo o braço humano, o que gerou ondas de revolta e contestação.

Mas a verdade é que esse medo nunca passou de um mito e o mercado de trabalho seguiu, até, um curso diametralmente oposto. Além de gerarem uma enorme riqueza, as alterações provocadas pela robotização e pela inteligência artificial têm servido para libertar mão-de-obra usada, até agora, em tarefas repetitivas, dando-lhe tempo para intervir onde é efetivamente necessária, com funções bem mais estimulantes e criativas. Em grande parte, a robotização foi responsável pela redução do horário médio de trabalho.

É certo que, ao criar novas funções, a evolução tecnológica implicou um investimento na qualificação dos trabalhadores habituados a tarefas mais monótonas (o que não é, de todo, uma má notícia para a evolução da própria espécie humana). A capacitação dos colaboradores foi, aliás, reconhecida pelo Governo português em 2017 - quando lançou a estratégia para a digitalização da economia, apoiada por fundos europeus. Na altura, o Governo anunciou um conjunto de medidas para apoiar o tecido empresarial na adaptação à Indústria 4.0 - conceito adotado na Europa para apelidar a quarta revolução industrial, que está a decorrer.

As medidas pretendiam incentivar as empresas portuguesas na adoção tecnológica, que passava por sensores, plataformas de armazenamento em cloud, colaboração homem-máquina, capacitação dos trabalhadores para aumento da competitividade, num ambiente rico em dados e máquinas inteligentes, entre outros aspetos. A digitalização e a robotização foram, durante os últimos anos, as prioridades do executivo português para a Economia e Transição Digital. E tudo indica que continuem a ser ao longo da próxima década, tendo em conta a Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, elaborada por António Costa Silva, com vista à utilização dos fundos europeus.

Apesar de ainda figurar entre as prioridades, a robótica já evoluiu bastante, sendo que a tendência aponta para uma crescente aceleração do ritmo de desenvolvimento - e sempre a pensar no benefício das pessoas. O carrinho de compras autónomo wiiGO, para pessoas com mobilidade reduzida, ou o mais recente UV-Robot, para desinfeção de espaços, são apenas alguns exemplos da robótica móvel atual. No setor da logística, um dos mais avançados em termos de robótica, o exemplo mais famoso é, talvez, o da tecnologia Amazon Robotics, que permitiu otimizar a gestão de mercadoria nos armazéns da Amazon e, ao mesmo tempo, reduzir os acidentes de trabalho - ao libertar os colaboradores para funções mais leves, ligadas à atenção ao cliente. Os benefícios são evidentes. Não exigir adaptação das fábricas para integração, a comunicação entre robots e com outros sistemas, em tempo real, a eliminação dos tradicionais empilhadores - poluentes e causadores de inúmeros acidentes - são apenas alguns deles.

Longe vão os tempos em que temíamos os teares que assinalaram a primeira revolução industrial. Agora, caminhamos para que, em 2025, um quarto das tarefas industriais seja desempenhado por robots, um rápido aumento face aos 11% registados em 2017 (dados da PwC). Além da indústria, os robots têm sido cruciais em áreas tão diversas, dos serviços à medicina, e o seu apoio tem servido para melhorar a nossa qualidade de vida, já que nos faz ganhar tempo para nos centrarmos em aspetos tão mais humanos como a inteligência emocional, a saúde mental ou a própria família. Posto isto, fica a questão: quem continua com medo de robots?

Luís de Matos, CEO da Follow Inspiration

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