Tendências tecnológicas: O que nos ensinou a covid

Todo os anos discutimos quais são as tecnologias emergentes para aquele ano, se vamos assistir ao aparecimento de novas ou se será apenas a consolidação das já existentes. E quando 2020 começou, não foi diferente. Todos achávamos que seria um ano bastante positivo e as expectativas estavam altíssimas. Mas, de repente, quase da noite para o dia, vimos o mundo mudar. Parar. Confinar. A realidade que conhecíamos tinha desaparecido e a distância e o afastamento tinham-se tornado palavras de ordem.

Passado quase 1 ano, gostaríamos de dizer que tudo voltou ao normal, mas infelizmente ainda não é a altura certa e não saberemos quando será. Muito aconteceu e 2020, foi um ano pesado, triste, solitário, mas ao nível da tecnologia podemos afirmar que foi, sem dúvida, um ano de evolução, crescimento e no qual as empresas tiveram obrigatoriamente de investir na sua maturidade digital, face às novas necessidades. E a verdade é que globalmente demos o maior salto tecnológico registado e, prova disso, é que de acordo com um estudo recente da IDC os investimentos a nível global na transformação digital subiram 10.4% no ano passado, atingindo um total de 1.3 triliões de dólares.

Desta forma, a pandemia veio intensificar a inovação tecnológica, bem como as estratégias de investimento de quase todas as empresas no mundo, uma vez que os desafios económicos e socioeconómicos deixaram claro que as TI são fundamentais para que as empresas consigam sobreviver.

A tecnologia nunca teve um papel tão determinante na vida das organizações e dos indivíduos como atualmente e essa apropriação está, de facto, a transformar os modelos de negócio, a alterar as preferências e as ferramentas de suporte à atividade das empresas. Segundo a IDC, os investimentos em digitalização irão continuar a progredir no futuro e serão responsáveis por 65% do PIB mundial será digitalizado até 2022.

O digital já não é uma tendência, mas sim uma exigência. Possivelmente no ano passado não identificámos muitos desenvolvimentos tecnológicos ou de negócio, mas acelerámos, certamente, muitas das tendências que estavam ainda a dar os primeiros passos. 2020, abriu inúmeras possibilidades a qualquer organização, ao permitir a integração de novas ferramentas e áreas como Data Analytics, Cloud/SaaS (Software as a Service), Inteligência Artificial (IA) e RPA (Robotic Process Automation), que se tornaram fundamentais e irão, seguramente, continuar a desempenhar um papel essencial este ano.

Cada vez mais as empresas procuram soluções chave na mão, e com o conceito de "tudo incluído", fazendo com que as soluções Software as a Service tenham cada vez mais adeptos. Os grandes fabricantes de Software têm também apostado muito neste segmento e notaremos ao longo deste ano um aumento significativo nesta área.

A acompanhar esta evolução surgem os sistemas de gestão empresarial (ERP), mas não os ERP tradicionais, os novos ERP, suportados num conceito de maior inteligência e, no qual são reforçadas as mais-valias para o utilizador. Estes são sistemas mais inteligentes, onde se integram novas funcionalidades, como tecnologia cognitiva, comunicação "machine-to-machine", capacidades colaborativas, ou seja, um sistema "mais inteligente" e com maior "capacidade analítica".

Neste sentido e embora o conceito de cloud não seja uma realidade recente, a grande tendência é a maior aposta na integração dos ERP com soluções cloud based, uma vez que se trata de sistemas que garantem uma melhor gestão ao nível do capital humano e do relacionamento com o cliente. Sistemas esses que permitem dispor de um maior número de fontes de informação, o que acaba por se tornar numa poderosa fonte de análise para as operações de negócio, garantindo assim previsões mais assertivas e focadas.

Os novos ERP vieram assim possibilitar às organizações uma substancial redução de custos, aliada a ter armazenamento quase ilimitado e uma robustez sem paralelo. No entanto, a segurança para estas entidades passou a estar na linha da frente dos investimentos.

A cibersegurança, que se tornou mais do que uma tendência, é agora uma prioridade para as organizações. A covid fez com que, mesmo as empresas que não tinham uma componente digital tão forte, tivessem obrigatoriamente de investir nesta área, sendo que este ano será certamente um ano de consolidação neste setor, devido sobretudo ao modelo de trabalho remoto e híbrido que as empresas adotaram.

Por outro lado, assistiremos também a uma maior intensificação da automação de processos aliada à IA, não só na componente empresarial, como também em toda a sociedade, através de um conjunto de processos, no qual os produtos se tornaram inteligentes e conectados. Exemplo disso, é a área da saúde que com a pandemia teve um enorme impulso. O crescimento do negócio passará assim por conseguir processar toda a informação que conseguimos obter (a qual cada vez é maior) e no menor período de tempo ter um resultado que nos permite tomar uma decisão ou executar um processo crítico para o negócio, tudo isto sem intervenção humana.

Numa altura de enorme instabilidade, mais do que nunca, as organizações devem iniciar os seus processos de transformação digital, pois só assim conseguirão ultrapassar todos os desafios que 2021 nos trará. Já não é altura para as empresas se continuarem a questionar sobre a importância de iniciar este processo, têm de o fazer, até porque ela já está a decorrer e ou conseguem acompanhar ou ficarão para trás. Esta é uma condição sine qua non para sobreviver e obter o sucesso nos seus negócios.

João Moreira, CEO da Abaco Consulting

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