Visivelmente aborrecido com a frustração por terceiros dos seus delírios estatistas, o primeiro-ministro revelou nesta semana a versão minimalista daquele megaplano que iria resolver os problemas da Habitação que há um mês deixou o país boquiaberto com o assalto à propriedade privada por parte de quem tem um imenso espólio imobiliário sem préstimo.
Aberto o melão, era afinal mais ar e casca grossa do que miolo comestível - e mesmo esse estava carregado de pevides incomestíveis. Saiu um apoiozinho para os arrendatários mais aflitos e um pedido à banca que se adiante a dar a mão a quem não consegue pagar o crédito da casa, que o governo depois lá irá fazer as contas ao que deve.
Quanto ao resto do Guia Prático Para Expulsar Investidores e Hostilizar a Iniciativa Privada, também chamado programa Mais Habitação, foi vítima de adiamento forçado para não parecer que a consulta pública (prevista para dois dias) era mera operação cosmética. Nem por isso deixou, naturalmente, de causar estragos, com vários investidores estrangeiros a congelar ou desistir dos planos para Portugal e milhões de euros a voar pela janela.
Imune às críticas de todos os que ainda acreditam que é possível produzir riqueza neste país e aos muitos mais que carregam cartazes de protesto pelas ruas contra a perda que o socialismo lhes causou - ainda que o ministro da Economia jure que andam só distraídos, porque o país está muito melhor -, o otimismo irritante de António Costa não lhe permitiria deixar as coisas assim. E por isso aproveitou o palco para anunciar que o Conselho de Ministros se prepara para adotar mais medidas de apoio. A receita certa - de quem sabe que só vale alguma coisa enquanto conseguir impedir que os demais se ponham de pé e caminhem - para manter o país ligado à máquina estatal de suporte de vida.
Disse-o o PM no exato dia em que, apesar da ameaça de crise financeira trazida pelo colapso do Credit Suisse, o BCE somava mais 50 pontos base à taxa de juro, escalando-a para 3,5%, o valor mais alto desde os tempos da falência do Lehman Brothers. "Veremos quanto podemos dar quando soubermos que margem temos nas contas certas", explicou Costa, fazendo orelhas moucas à impaciência de Christine Lagarde perante os governos que persistem nos apoios quando os preços da energia recuam, mas a inflação não alivia dos 8%.
Em Frankfurt, a presidente do BCE sinalizava que há urgência em pôr termo às ajudas, sob pena de a subida do custo do dinheiro ser ainda mais violenta para aplacar pressões inflacionistas, pedindo políticas orçamentais que troquem esmolas por estímulos à produtividade e à redução da dívida pública. Em Lisboa, o primeiro-ministro do 19.º país da União Europeia em produtividade e um dos três maiores devedores assobiava para o lado, acenando com a criação de novos apoios. Enquanto ia pedindo aos santinhos para lhe desencantarem um novo evento pandémico que lhe permita voltar aos felizes tempos de governante absoluto e inquestionado e ganhar tempo para um PRR que só sairá do papel em vésperas de eleições. Provavelmente sob a forma de uma eólica offshore fantasma em cada praia.
Sobe & Desce
SOBE: António Horta Osório, Banqueiro
Há pouco mais de um ano, o Credit Suisse perdia 18 mil milhões de euros numa semana. A razão? A saída de António Horta Osório, contratado nove meses antes para repor a ordem num gigante financeiro que acumulava anos de decisões desastrosas e vacilava à beira do precipício. Agora na corda bamba, a segunda maior instituição financeira da Suíça arrisca chegar ao ponto final dos seus 167 anos de história. Uma história que teria sido muito diferente se os executivos a quem quis impor regras rigorosas e cujos direitos instalados pôs em causa não tivessem empurrado porta fora o gestor que a rainha de Inglaterra fez Cavaleiro - pelo serviço de filantropia e pela incrível recuperação que liderou no Lloyd"s -, com a desculpa de não ter respeitado uma quarentena.
DESCE: António Costa Silva, ministro da Economia
Com o país na rua, o ministro da Economia consegue dizer que Portugal está muito melhor, só que os portugueses ainda não o sentem. Enquanto Medina acumula receita fiscal recorde com os milhões de euros cobrados a mais em impostos à boleia da inflação, Costa Silva aponta o dedo aos supermercados, insinuando culpas nos preços pagos pelos consumidores. E nada diz para esclarecer que os lucros obtidos por uma empresa ao longo de um ano que passou não têm relação com preços cobrados na atualidade pelos seus produtos, que as margens brutas são valentemente comidas por custos brutais, que 100 euros de aumento nos salários mais baixos são maioritariamente engolidos pelo fisco e pela segurança social, que uma descida de custos em câmara lenta não pode nunca traduzir-se numa imediata redução de preços, que lucros não são sinónimo de dinheiro no bolso dos acionistas mas antes, na maioria dos casos, servem para financiar desenvolvimento e melhorias... Que Portugal tem de trabalhar para ser competitivo ou nunca descolará da cauda da Europa.