A sombra de uma crise financeira global volta a pairar. A falência do Silicon Valley Bank (SVB) não apresenta, à partida, risco sistémico. Mas o mundo ainda está traumatizado com a derrocada do Lehman Brothers, em 2008, cujos efeitos se repercutiram por todo o sistema financeiro.
Não há, contudo, semelhanças entre as duas falências. E desta feita, as autoridades americanas foram rápidas a agir, garantindo a salvaguarda dos depósitos e ao mesmo tempo asseverando que os contribuintes não vão pagar mais um resgate bancário.
A subida gradual e forte das taxas de juro expôs os erros de gestão do SVB. O banco investiu massivamente em produtos financeiros, esquecendo que o principal objetivo de uma instituição bancária é ajudar os clientes a gerirem as poupanças, património ou investimentos com segurança e rentabilidade.
O crescimento económico exige um sistema financeiro estável, credível e com liquidez. Os bancos são essenciais ao dinamismo das economias, na medida em que lhes cabe transferir, de forma segura e idónea, recursos financeiros entre clientes que precisam de capital e clientes que têm capital para investir ou depositar.
Todavia, temos assistido ao afastamento progressivo dos bancos do seu core business e sobretudo à menorização dos interesses dos clientes face a outros stakeholders, em particular os acionistas. Ora, qualquer empresa, mais ainda de um setor tão sensível como o financeiro, deve defender com equidade os interesses de todos os stakeholders: clientes, trabalhadores, fornecedores, sociedade e acionistas. Neste pressuposto, é difícil entender, por exemplo, que perante o crescimento acentuado dos juros a banca portuguesa só agora e muito timidamente esteja a subir a remuneração dos depósitos. Há que sublinhar que, sem depósitos, os bancos não têm capacidade de emprestar dinheiro a empresas e famílias, perdendo utilidade económica e social.
De resto, os portugueses foram lestos a responder a esta desconsideração dos bancos pelos clientes. Como o legítimo anseio de verem os seus depósitos devidamente remunerados não teve correspondência, os clientes resgataram poupanças e foram aplicá-las em certificados de aforro, cuja taxa de juro ronda os 3,5%. Em janeiro, o valor aplicado em certificados de aforro atingiu o máximo histórico em 25 anos: 22 534 milhões de euros. Fica a lição para os bancos.